terça-feira, 11 de novembro de 2008

Uma partida de futebol no inferno goiano


Saímos de Brasília rumo a Goiânia, às 11h, num micro ônibus, para assistir ao Goiás x Cruzeiro, às 17h, no Serra Dourada. Viagem tranqüila, sem sobressaltos.

Já no estádio, compramos ingressos e ficamos perto da entrada esperando abrir os portões. O jogo e a má atuação do Cruzeiro já nem interessam mais. O que pretendo relatar é a baderna que estragou o espetáculo.


Durante a partida, houve briga dentro do estádio. O juiz chegou a paralisar o jogo até que a polícia separasse os brigões das organizadas de Goiás e Cruzeiro.

Os poucos policiais tiveram tremenda dificuldade para separar os baderneiros, que não estavam ali pra assistir ao jogo. Só queriam demarcar território e mostrar força.

Mas o pior estava por acontecer. No final, eu e meu amigo Alencar retornamos ao ônibus e ficamos conversando com o grupo que havia chegado antes enquanto esperávamos o restante do pessoal.

De repente, marginais vestidos com camisas da torcida do Goiás, armados de pedras, garrafas e paus quebraram os vidros do ônibus e hostilizaram os passageiros. Chegaram a invadir o veículo pra nos obrigar a tirar as camisas do Cruzeiro.

Enrolado numa bandeira do Goiás, um torcedor muito popular na cidade foi quem nos socorreu impedindo que os baderneiros nos tirassem à força do ônibus.

Àquela altura, éramos vinte, duas crianças incluídas, contra uma multidão impossível de ser calculada.

Interessante é que os baderneiros mais jovens estavam na linha de frente enquanto os mais velhos, na retaguarda, confabulavam e se divertiam.

Os poucos policiais presentes se ocuparam com a escolta dos integrantes da Máfia Azul, cujo ônibus estava estacionado num posto de gasolina mais adiante.

Enquanto isto, dois de nossos companheiros de viagem, pai e filho adolescente, eram agredidos na rua. E não fosse a proteção de um comerciante, que os arrastou para dentro de sua barraca, teriam sido linchados.

No momento mais tenso, quando já havia marginais dentro do ônibus e a tentativa de diálogo não funcionava, descobrimos que teríamos que brigar pra não sermos linchados.

Sorte nossa ter aparecido um torcedor cruzeirense, policial civil de Brasília, que vendo a agressão, deu alguns tiros para o alto colocando parte dos vagabundos pra correr.

Ato contínuo, ele se postou na frente do ônibus, arma na mão, enquanto os demais vagabundos observavam a cena à distância.

Atraídos pelos tiros, 3 cavalarianos da PM de Goiás, armas em punho, acorreram ao local.

O policial brasiliense identificou-se, relatou a ocorrência e foi embora. Pedimos escolta até a saída, pois temíamos novas abordagens violentas no caminho, mas não fomos atendidos. A PM somente nos mandou deixar o local imediatamente.

Avisamos que alguns colegas ainda estavam dentro do estádio, mas os policiais nos pediram pra sair logo, pois não podiam ficar à nossa disposição esperando os demais componentes da caravana voltarem.

Enfim, os retardatários chegaram e o torcedor do Goiás, que nos apoiou, levou-nos a uma delegacia para registrarmos a ocorrência. Não fomos atendidos, pois ela estava lotada de torcedores na mesma situação nossa.

A segunda delegacia estava fechada. Na terceira também não nos atenderam. Para não ter que passar a noite em Goiânia, sem proteção, e porque o pessoal precisava trabalhar no dia seguinte, decidimos voltar a Brasília sem o BO.

A viagem foi desconfortável. Numa das laterais do ônibus um vidro arrancado deixou um buraco. Outros vidros estavam prestes a desabar e, pra piorar, choveu.

Dentro do ônibus estilhaços de vidro por toda parte obrigou boa parte do pessoal a viajar em pé.

Nunca mais voltarei a Goiânia pra acompanhar uma partida de futebol. A cidade não tem policiamento eficiente, suas delegacias não atendem aos torcedores, enfim, não há garantia pra quem pretende apenas assistir a um jogo de futebol.

Passado o susto, pergunto: como é que uma cidade que não consegue organizar um jogo de futebol para 8 mil espectadores pode sediar jogos de Copa do Mundo?

Como pode um país, que apresenta sedes como esta, organizar Copa do Mundo?

Agnaldo Morato, leitor e comentarista do nosso blog, 41, cruzeirense, contador público, trabalha no Governo do Distrito Federal, nasceu em Buritis-MG, mora em Brasília.

Esse texto foi originalmente postado no Blog Páginas Heróicas Digitais do sociólogo cruzeirense Jorge Santana. 


A violência não foi somente dentro do estádio...

...quando até o jogo teve de ser interrompido pela arbitragem, tamanha foi a proporção da batalha entre as torcidas.


Nesse vídeo você vê cenas da confusão no estádio.

17 comentários:

Anônimo disse...

pra que isso.Tanta violencia.
O futebol precisa de Paz

Anônimo disse...

Caro Carlão,

Obrigado pela publicação e principalmente pela preocupação com a violência que não leva a nada mais que violência.

Fiquei sabendo que por causa dos baderneiros, o Goiás será punido com a perda de mando de 3 jogos.

Será que o torcedor de verdade merece isto? Como o que citei que foi bastante prestativo e solidário.

Mas como não se pode punir individualmente, os justos pagam pelos pecadores.

Sobra a eles o direito de policiar as presepadas armadas por seus colegas de torcidas e cobrar uma postura mais firme da diretoria do seu time.

Abraço

Daniel Leite disse...

De fato, o do Serra Dourada foi só um exemplo. No Brasil, a qualquer estádio que formos, estaremos sob um enorme risco de perder a vida, a dignidade. Em uma Copa do Mundo, a verdade é que as coisas são distintas. Mesmo assim, há o que temer. Faltam-nos civilização e cidadãos efetivos.

Até mais!

Saulo disse...

Infelizmente, existem pessoas que não sabem nada de futebol.

Ricky_cord disse...

Extremamente lamentável esse episódio. O futebol tem que ser uma festa.

Impasse Livre disse...

Uma pena,pois o vermelho que corre do sangue, deveria ser o do coração... e a lagrima que escorre do rosto, deveria ser de suor....fica a dica: porque nós blogueiros esportivos não fazemos um manifesto contra a viloência, uma coisa coletiva em uma data específica? não é nada, não é nada, pelo menos é um grito, um texto, alguma coisa...abs, Carlão...

Almirante disse...

Olha carlão,
essa situação de trocida organizada é algo muito sério.São verdadeiros vandalos que na verdade pouco importam-se com o time, e muito mais com a torcida em si.Vão ao jogo já na intenção de brigar e no caso específico, contam com a incompetencia da polícia.
Grande abraço!

Filipe Araújo disse...

Abomináveis baderneiros DOS DOIS LADOS. Carlão, qualquer cidade pode passar por este tipo de situação quando os "torcedores" não vão ao estádio preocupados apenas em ver o jogo.

Saludos!

http://gambetas.blogspot.com

Vinicius Grissi disse...

Uma vergonha o que aconteceu. Mais uma vez, diga-se de passagem. Punir o Goiás, não adianta nada. Precisa punir é a Polícia e os torcedores. Que serão os mesmos, em outro estádio...

Aldevan Junior disse...

É assim mesmo, Carlão. E o Brasil será sede da Copa do Mundo de 2014. Deste jeito.

Estudo na Uerj, em frente ao Maracanã. Sabe o que é preciso para você ser assaltado em frente ao estádio? PASSAR NA FRENTE DELE.

Enquanto não se modificar na origem e punir severemente os infrigirem a lei, seremos eternamente reféns desta bandalha que é a segunrança nos estádios e na sociedade brasileira.

Abraço!

Anônimo disse...

Poxa amigo, parece um conto de uma pelicula do Tarantino! è lamentavel mesmo e vou lhe dar toda minha solidariedade.
Abraço

Rafael Amaral disse...

Muito ruim isso acontecer com os torcedores que pagam o ingresso para ver um jogo de futebol.
Alguma coisa deve ser feita para melhorar as condições desse estádio e de muitos outros pelo Brasil que não têm condições de receber um grande público!
A torcida é o maior patrimônio do clube e merece mais respeito!

Muito bom post, Carlão, e parabéns pelo depoimento, Agnaldo! A torcida precisa ficar sabendo do que acontece dentro e fora de Minas...

Abraços
Saudações celestes

http://blog-azul-cruzeiro.blogspot.com/

Diego Louzada disse...

Cara, membros de torcida organizada que se dispõem a ir aos estádios para brigarem existe em todo o Brasil, não é exclusividade da torcida do Goiás.
A torcida Força Jovem do Goiás faz parte de uma união que inclui a Galoucura, eterna rival da Máfia Azul, do Cruzeiro. Sendo assim, a polícia goiana deveria fazer barreiras que impedissem qualquer tipo de contato entre as torcidas, dentro e fora do estádio.
No Rio esse trabalho vem sendo feito, com as torcidas de outros estados sendo escoltadas até o estádio. Na verdade, aqui as torcidas de fora são tratadas com toda a cortesia, enquanto as torcidas daqui são tratadas com spray de pimenta, cavalos e porrada, mesmo quando nada fazem. Já sofri muito em estádios, sem que nada tivesse acontecido.
Era um jogo que qualquer criança sabia que ia dar merda, mas mesmo assim a PM não se preparou.
Que sirva de lição.
Abraço!

Daniel Reiner disse...

Claro que esse não é um "privilégio" da torcida do Goiás e nem da cidade de goiania. A torcida do Cruzeiro também está cheia de vagabundos e torcedores que veem de outros estados já passaram vários apuros por aqui.
A discussão quanto à viabilidade da Copa do Mundo é válida,sim, desde que nos desapeguemos de um possível bairrismo hipócrita (que fique bem claro que eu não estou acusando nem o autor do texto e muito menos o Carlão dessa postura).

Após isso...jamais viajei e nunca viajarei com ônibus especiais de torcidas organizadas. É sempre carregado de baderneiros,que normalmente não têm o que fazer no dia seguinte ou não tem compromisso com o proprio emprego e estão dispostos à briga. Sem falar no que costumam carregar dentro desses ônibus.
Paixão pelo Cruzeiro,sim,sem abrir mão do amor à vida,sempre.

De uma coisa estejam certos: quando a torcida do Goiás vir a BH receberá o troco na mesma moeda,INFELIZMENTE. É que vagabundo não se diferencia pela camisa do Cruzeiro,do Goiás,do Atlético...

Forte abraço!!!!

Daniel Reiner disse...

Claro que esse não é um "privilégio" da torcida do Goiás e nem da cidade de goiania. A torcida do Cruzeiro também está cheia de vagabundos e torcedores que veem de outros estados já passaram vários apuros por aqui.
A discussão quanto à viabilidade da Copa do Mundo é válida,sim, desde que nos desapeguemos de um possível bairrismo hipócrita (que fique bem claro que eu não estou acusando nem o autor do texto e muito menos o Carlão dessa postura).

Após isso...jamais viajei e nunca viajarei com ônibus especiais de torcidas organizadas. É sempre carregado de baderneiros,que normalmente não têm o que fazer no dia seguinte ou não tem compromisso com o proprio emprego e estão dispostos à briga. Sem falar no que costumam carregar dentro desses ônibus.
Paixão pelo Cruzeiro,sim,sem abrir mão do amor à vida,sempre.

De uma coisa estejam certos: quando a torcida do Goiás vir a BH receberá o troco na mesma moeda,INFELIZMENTE. É que vagabundo não se diferencia pela camisa do Cruzeiro,do Goiás,do Atlético...

Forte abraço!!!!

Ruy Moura disse...

Pois é, vagabundo é vagabundo, independentemente do time! E independentemente disso eu diria... que tristeza!!! Será que eles gostam mesmo de futebol?!?!?!?!?!...

Saudações Desportivas!

Anônimo disse...

Uau! Obrigado! Eu sempre quis escrever no meu site algo como isso. Posso tomar parte do seu post no meu blog?

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