domingo, 6 de maio de 2018

Lugar de MULHER é onde ELA QUISER!

Pela necessidade de discutirmos com seriedade esta questão, pela necessidade de nos conscientizarmos a cada dia desta horrível situação, pela necessidade de todos nós, juntos ou separados, lutarmos para diminuir, coibir, tentar mudar este panorama a nosso redor, na nossa comunidade, na nossa cidade no nosso país, no mundo inteiro. Tem de haver RESPEITO, tem de haver consciência, temos de acabar com este COMPORTAMENTO ASQUEROSO E CRIMINOSO. 

Este texto foi extraído do site Cruzeiro.org e este tema tem nossa total adesão.



DEPOIMENTO
Após ler o relato da torcedora Lari Bittencourt, sobre uma situação de assédio que ela presenciou no Mineirão, no jogo do Cruzeiro contra a La U, tomei coragem para contar o que aconteceu comigo.

Por muito tempo fiquei com a cena do que aconteceu comigo na cabeça... com ´nojo` ao lembrar da situação e vergonha de expor os fatos.

Aqueles que me conhecem sabem da minha paixão pelo Cruzeiro. Paixão em ir ao estádio, de estar nas arquibancadas, de torcer e acompanhar meu time presencialmente. Não basta ser uma torcedora. Tem que ser assídua e sempre presente.

Não imaginei que no dia 08 próximo passado, na partida final do ruralzão, contra nosso rival local que os sentimentos seriam além da apreensão pelo jogo que se anunciava muito tenso. Havíamos perdido o jogo de ida por 3 a 1, precisávamos vencer por dois gols de diferença. O sentimento era positivo e somente para empurrar o time rumo ao título.

Fui ao campo apreensiva, com minhas amigas que sempre vão comigo ao campo... Estávamos ali com o coração na mão, apoiando e certas de que tudo ia dar certo.

Sempre ficamos na parte direita do setor roxo inferior... lado onde o Cruzeiro costuma atacar no segundo tempo. Ali é mais vazio e tranquilo pra assistir o jogo, podíamos assistir de pé sem atrapalhar ninguém.

No primeiro tempo, aos 3 min, o Cruzeiro fez seu primeiro gol.

A euforia era imensa... foi quando percebi a aproximação de um jovem adulto. Um leve sorriso, um tanto quanto estranho, com um olhar perturbador. Dizem que nós, mulheres, temos um sexto sentido. E em muitas situações, identificamos intenções e sentimentos das pessoas pelo olhar, especialmente do sexo oposto. Pareceu que ele não estava com boas intenções.

Durante a partida, sentei algumas vezes na primeira fileira de cadeiras. O estranho aproximava-se e por detrás de mim, passou varias vezes. Em algumas destas passagens, foi possível ouvir palavras de baixo calão. Não que a gente vá a um estádio e não espere ouvir palavrões e impropérios. Mas aquilo foi nojento.

Nenhuma mulher merece!

Reagia instintivamente e me levantava, voltando a ficar de pé perto das minhas amigas.

No segundo tempo, quando Cruzeiro fez o segundo gol, aos 5 min, a ´loucura` foi total. Era o gol que precisávamos pra sermos campeões!

Naquele momento de ´comemoração`, o estranho aproveitou a alegria da maioria que estava distraída e ´abraçou` minha amiga e a mim. Conseguimos separar dele , e quando eu achei que estava ´livre`, ele agarrou-me por trás, puxou minha bochecha para o lado apertando e tentando me beijar de todas as formas.

Uma reação é muito difícil, não se consegue nem dizer um NÃO, mas consegui empurrá-lo e dar aplicar um tapa nele. Sim, dei um tapa nele como forma de reação. Ele assustou-se mas, logo em seguida começou a rir de forma debochada e cínica.

Comecei, desesperadamente a xingar (gritando mesmo) para que todos soubessem o assédio que ele estava tentando praticar.

Falei: ´Você é louco? Tira a mão de mim, sai daqui agora...` e ele rindo. Quando viu que todos estavam olhando pra ele, pediu desculpas. E disse que foi ´... um momento de euforia...`

Acho que retruquei algo como:

- Peraí !!! Só porque você está feliz como time, sejulga no direito de agarrar uma mulher a força? Aproveitar um momento de distração de todos pra tomar uma atitude dessa?

Penso que nada justifica isso.

Na hora,eu e minhas amigas ficamos muito assustadas. Nos afastamos. Um outro homem veio até mim pedir desculpas, passando-se por amigo dele e dizendo que iria tirá-lo dali.

E o idiota continuou rindo...

Alguns amigos, que ficam sempre no mesmo setor chegaram e ficaram perto de nós. Eles sugeriram que eu fizesse um BO.

Aí percebi o que acontece com a maioria das mulheres que são assedias de alguma forma. É muito maior do que medo, é pavor. Não quis fazer o BO ! Não sabia quem era o sujeito. Já havia visto ele em jogos passados e sabia que poderia encontrá-lo outras vezes. Eu não deixaria de ir ao campo por conta de gente deste tipo. Confesso que fiquei e ainda posso estar com medo dele ser procurado pela polícia e ´descontar` em mim de alguma forma. Em tempos de assédios morais nas redes sociais, ficamos muito mais vulneráveis e preocupadas.

Fiquei duas semanas sem ir ao Mineirão, não por ter medo, mas pela coincidência das datas destes jogos e compromissos profissionais. Mas pensei muito no assunto.

Voltei à Toca III, no jogo contra a La U, pela Libertadores. Estava receosa e de certa forma amedrontada com a possibilidade de encontrar com o assediador.

Fiquei afastada do local que eu costumo ficar, e certamente longe dele. Estava decidida,caso encontrasse com ele e ele me dirigisse a palavra, a pedir ajuda aos meus amigos que trabalham no estádio, aos seguranças e outros conhecidos para pedir uma restrição contra ele.

Durante o jogo, estávamos ansiosos e aflitos pelo resultado e por conta das circunstâncias. Mais uma vez o Cruzeiro precisava ganhar. No primeiro gol, aparece o sujeito novamente pulando atrás da gente. A mesma cara nojenta, achando que a testosterona é coisa natural somente pelo gênero. Anabolizantes podem produzir defeitos nos testículos e no cérebro.

O cara começou a nos rodear. Arrumou uma confusão com seguranças e o um parceiro dele, possivelmente por conta de bebida. O conhecido dele, o mesmo que me pedira desculpas, vendo ele rodeando, chegou perto de mim e disse: ´Essa moça é muito brava...`!

Eu respondi: ´Seu amigo é que não respeita ninguém!` Outro que os acompanhava repetiu a mesma ladainha de pedindo desculpas.

Como disse no começo deste texto, ao ler sobre o episódio ocorrido com outra mulher, perdi o receio e resolvi descrever a minha pequena tragédia, que me incomodou muito durante estes dias. Ver que a situação se repete, fico triste e senti que devo me manifestar, até para evitar que isso aconteça com outras mulheres. Certamente acontece com muitas outras, especialmente aquelas que vão ao estádio sozinhas.

Tenho certeza que esses assediadores continuarão frequentando seus setores e continuarão com este comportamento, o estádio, mesmo com câmeras, vigilantes e muita polícia, não dá conta destes criminosos. E, como este meu assediador, tenho a certeza que ele estará lá com a mesma cara nojenta e falta de respeito de sempre.

Quero distância, da nojo só de pensar que ele encostou em mim.

Mas tenho fé que ele vai aprender a respeitar uma mulher! A mãe dele deve tê-lo ensinado a respeitar as mulheres.

Ele vai perceber que, um dia, pode ser obrigado a respeitar outras mulheres. Seja pelas leis de Deus ou da justiça estes assediadores tem que nos respeitar!

Nós mulheres, temos que mostrar nossa indignação e contar com ajuda dos homens de verdade para sermos respeitadas.

Lugar de mulher é onde ela quiser estar! 

Renata Gama, cruzeirense de arquibancada.

 Leia mais: Cruzeiro.org

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